sábado, 16 de abril de 2011

A caneta do Batman

Quando era pequeno, o menino tinha uma preocupação especial antes de ir à escola: não esquecer da borracha. Quando não a achava, não sentia necessidade de levar o lápis. Afinal, para quê diabos usaria o lápis se não poderia apagar o escrito? Além disso, funcionava como uma desculpa para escrever com sua canetinha do Batman, a qual só era acionada em ocasiões especiais - questão de economia e estilo. A do Robin, é claro, ficava para o dia-a-dia.

Talvez haja um quê de sabedoria numa atitude tão singela. A inocência do garoto tem como fruto uma boa metáfora da existência humana. Talvez a vida seja um papel de caderno - aí já não sei o super-herói da capa - e tenhamos a opção de escrevê-la da maneira pela qual queremos. O lápis seria uma garantia de que, se tudo desse errado, poder-se-ia apagar tudo e partir do zero. Representa a cautela, o cuidado para que tudo dê certo. O único probleminha, amigo, é que a temporalidade não permite nenhuma borracha: o que se escreve, o que se faz, não mais será apagado - no máximo, rasurado. Mesmo que se arranque a folha, a amasse e se lhe jogue fora, o escrito, o feito, o passado não pode ser mudado.

Ora, qual o sentido de se usar o lápis se não há borracha? Não seria muito mais razoável - e, provavelmente, mais divertido - utilizar a nossa caneta preferida? É sabido que um dia a tinta irá acabar - mas também é assim com o grafite e com tudo nesse mundo. Escrever a própria existência com a caneta que se deseja, colocando no papel o que se quiser: taí um bom sentido para a vida. Talvez se mais gente agisse dessa forma, buscando o que quer sem a cautela, sem o medo de errar ou de ser reprovado, viveríamos num lugar mais cool.

É lógico, porém, que a prudência, a cautela e qualidades similares são necessárias para qualquer um. Não se pode escrever de qualquer jeito - afinal, ninguém (creio eu) gosta de ler um texto todo rasurado. Escrever com caneta exige um cuidado e uma atenção toda especial, além de uma convicção de que se está fazendo tudo do jeito certo. É preciso um grau de maturidade para que se perceba a imensa responsabilidade embutida nisso tudo: é a sua história; você escreve. Logicamente, as consequências dos seus atos devem vir ao seu encontro.

Portanto, amigo, não tenha medo de escrever com a caneta. Nossa vidinha é por demais pequenina para que tenhamos tempo de fazer rascunhos e de buscar a perfeição em tudo. Lembre-se que nem mesmo os super-heróis são perfeitos (faça-se justa exceção a Chuck Norris). Recorde-se que a borracha da vida não existe. Não economize a tinta de sua caneta preferida - nunca se sabe quando ela pode quebrar ou quando um vento pode levar para longe o seu papel. Use-a o máximo que puder, com toda a responsabilidade que isso implica. Seja seu Batman. Ou então se contente com o papel de coadjuvante na própria vida. Você escolhe, você marca o X.

E a resposta só vale se for de caneta.