domingo, 10 de outubro de 2010

Falta de postagens

Post minúsculo só para justificar a ausência de postagens com uma palavra: provas.

Além da eventual falta de inspiração.

Prometo que lá pro dia 19 eu posto algo decente.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A goleira do Gigantinho

A goleira do Gigantinho. Poucas coisas eram tão certas no futebol como o fato de que esta goleira seria amaldiçoada. Não exatamente amaldiçoada, mas enjoada, carrancuda, cabulosa. Basta assistir a todos os gols históricos do Internacional: o gol iluminado, o primeiro gol da final de 76, o gol do Dunga contra o Palmeiras, os gols contra o Libertad, o gol do Tinga... Todos no outro lado do campo. Todos na goleira do placar.

Minha teoria não explica isso por um mero acaso do futebol. Na verdade, o que acontece é que, em algum momento antes do jogo - muito provavelmente na noite anterior, já que o futebol escolheu ser brasileiro e nós deixamos tudo pra última hora -, as traves decidem de quem e quantos gols levarão. O velho jargão do futebol que diz "a bola não quer entrar" está errado por esse singelo detalhe: não é a bola, aquele objeto desleal e manipulável, que decide se vai ou não tocar as redes. É a baliza quem manda. Se ela está de mau humor e não quer tomar gol, não existe jogador capaz de contrariar sua vontade. Mas se ela está faceirinha, não tem goleiro que seja capaz de não tomar uma goleada. O placar do jogo nada mais é do que a soma dos placares que cada goleira escolhe.

O que eu notava, desde que passei a acompanhar o Inter, era a inconveniência da goleira do Gigantinho. Gol do adversário aos 49 do segundo tempo? Sempre nela. O Inter precisa de um gol faltando 2 minutos pro fim do jogo? Não nela. Onde sempre fica a torcida adversária? Atrás dela. Já a goleira do placar sempre foi só alegria. Gol de título, gol salvador, golaço, gol mil... todos lá. Além disso, atrás desta é que se colocam as principais torcidas - organizadas ou não - coloradas.

Tinha que ter uma explicação para isso. Cogitei até que a goleira do Gigantinho fosse gremista, uma infiltrada em território inimigo. Mas aí já seria demais. Talvez as duas sempre combinassem na sorte - não me pergunte como - onde seriam os gols e a coitada sempre desse azar. Ou podia ser até uma questão de carma, nunca se sabe. O fato é esse: a goleira do Gigantinho era uma chata. Isso sempre me acompanhou. Até o dia dezoito de agosto de 2010.

Intervalo de jogo. O Chivas batia o Inter em pleno Beira Rio, na final da Libertadores. O gol do inimigo, claro, ocorrera na goleira do Gigantinho. E esse era o grande problema. Não importava como os times iriam voltar a campo, se haveria alguma mudança tática radical no Colorado ou se os mexicanos iriam voltar com sete zagueiros. A verdade era que o Inter dependia somente do arbítrio de sua mais incerta aliada. Por que diabos a outra goleira, sempre fiel aos objetivos colorados, sempre paparicada, sempre exaltada, não cedeu um golzinho para o Inter? Por que tinha tudo de estar nas mãos - figurativamente falando, claro - da goleira mais cabulosa do Beira Rio?

Depois do jogo, eu entendi. Em meio às comemorações, aos foguetes e aos gritos colorados, urros orgulhosos de quem era mais uma vez dono da América, eu tive uma visão. Meio embaçada, admito, mas na qual eu parecia observar o Beira Rio mais ou menos do lugar onde eu estava - um pouco mais pra esquerda, para perto do Gigantinho. O estádio estava vazio, apenas algumas lâmpadas dos refletores acesas, o verde do campo quase absorvido pela escuridão noturna. As traves, ao invés disso, pareciam ter luz própria. Não brilhavam, mas certamente tinham um destaque no cenário. Era como estivessem se comunicando. Apesar de não ouvir nenhuma voz, ficou claro tudo o que estava posto. Toda um histórico de injustiça, de desigualdade, de tratamento diferenciado. A goleira da esquerda parecia se fazer entender, sabiamente. Era como se um filmes de gols, defesas e bolas na trave, desde as arranhadas imagens dos anos 70 até as daquele dia, fosse exibido no gramado. Transpassava-se pela película verde uma vontade de se provar, consequência de um sentimento guardado, remoído. Foi reivindicada uma redenção. E ela tinha data marcada.

Tudo ficou claro: a visão, o estádio e minhas ideias. Os três gols do Inter ocorreram na goleira do Gigantinho. Ela fizera questão do suspense ao intervalo. Fizera questão de novamente ser posta em dúvida, para que o gosto de sua apoteose fosse ainda mais saboroso. Ainda ganhara um presente da outra goleira, que sofreu um gol do Chivas ao fim do jogo. Finalmente, era ela a estrela da noite, era ela o motivo da felicidade vermelha, veio dela a razão de ser feito um carnaval em agosto.

Quando me dei por mim, estava observando a festa dos jogadores, na frente da Popular, atrás da goleira do placar. Logo olhei para o outro lado do campo, quase vazio, por alguns detalhes diferente da minha visão anterior. Lá estava a goleira do Gigantinho, novamente reluzente. Era observada, provavelmente, apenas por mim e pela outra goleira, que a encarava felizmente. A história era finalmente compensada.

Não se importava onde todos comemorariam. Não ligava se ninguém olhasse para ela. A grande verdade era que, quando todos saíssem do estádio e ele, mais uma vez, estivesse vazio e levemente iluminado, a goleira do Gigantinho poderia adormecer em paz, com uma certeza: nenhum sonho poderia ser melhor do que a realidade.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Fila de supermercado

Uma das coisas mais intrigantes deste mundo é a fila do supermercado. Primeiro porque, como o resto do planeta, é regida pela lei de Murphy. Se o sujeito está com pressa, sua fila será sempre a mais lenta – não importa se a sua frente exista apenas uma velhinha comprando um queijo e escovas de dente pague-duas-leve-três enquanto ao lado estejam três carrinhos entupidos de compras. Aliás, estatisticamente falando, o mais provável a acontecer nessa situação, com 23,43% de ocorrência, seria o cartão de crédito da (velha miserável que vai te atrasar)* simpática senhora estar magnetizado e ela se recusar a pagar à vista, mesmo que tenha dinheiro no bolso. Afinal, quem em sã consciência não parcelaria os 10 reais da compra em um mais cinco vezes - sem juros?

Outro ponto a ser lembrado é o dos guardadores de lugar. Isso pode até virar profissão. Pode-se até imaginar, em um futuro próximo, a criação de sindicatos para o novo ramo do mercado de trabalho. Siglas imensas, como SAGGLFSHM (Sindicato da Associação Geral dos Guardadores de Lugares em Fila de Super e Hiper Mercados) fariam parte do nosso cotidiano, com faixas de protesto nos estabelecimentos conveniados. Reivindicariam a permissão para a leitura das revistas que ficam no caixa e o bônus puxa-conversa, que premiaria com um aumento de 20% no salário – descontados os impostos – para aqueles que, além de simplesmente guardar a vez, puxassem algum assunto com quem está atrás. Nada mais justo para alguém que teve sua vaga ocupada injustamente do que um papo legal sobre o tempo ou sobre a demora que está a fila (concluindo que a direção do super-mercado deve contratar mais pessoal urgentemente). Tais reivindicações, como 98,21% das reivindicações feitas até hoje, não seriam atendidas. Por fim, os sindicatos perderiam sua força e os melhores da profissão fariam serviços particulares por agendamento. E como este se procederia?

Logicamente, mais fila.




*O "velha miserável que vai te atrasar" deveria estar riscado, o que o blogspot não permite.

E que quê

Sabe, pensar faz bem. Nem todo mundo pensa. Não no sentido de raciocinar, pois isso qualquer um faz (eu acho). Digo no sentido de REALMENTE pensar. Não só sobre questões cotidianas, mas também não sobre grandes questões da humanidade. Nem sobre o novo carro do vizinho, nem sobre a dialética transcedental que rege o universo. Assim, simplesmente, pensar. Como se do inconsciente viesse um pequeno estalo, uma minúscula semente da qual - ou através da qual - se desenlaça um amálgama completo de possibilidades de coisas - e esta foi a única palavra que aqui se encaixou - a serem pensadas. Nada específico ou que realmente importe, de um jeito que dá a impressão de que estava tudo previsto. Como uma conversa singela, daquelas que surgem do silêncio para acabar em amizade, amor ou na próxima parada do ônibus. Começam por coincidências, e, quando parecem que vão seguir uma linha de raciocínio (de novo ele) previsível, novas possibilidades aparecem, se desdobrando numa cadeia de infinitos fins e começos. Deve haver algum 'quê' de irracional na mente humana. Isso explicaria muito.

Só que, ao mesmo tempo, não explica nada.


Foi de um pensamento surgido assim, do nada, que me veio a ideia de fazer um blog.

Prometo que não falo da nova Pajero preto com roda de liga leve e direção elétrica do vizinho.